7.8.13

Em fazer a sua vontade, em ser o que Ele quer que sejamos

Durante muito tempo perguntei a mim própria porque tinha Deus preferências, porque não recebiam todas as almas um grau igual de graças; admirava-me por O ver prodigalizar favores extraordinários aos Santos que O tinham [2vº] ofendido, como S. Paulo, Santo Agostinho, e que forçava, por assim dizer, a receberem as suas graças; ou então, ao ler a vida de santos a quem aprouve a Nosso Senhor acarinhar do berço ao túmulo, sem deixar no seu caminho nenhum obstáculo que os impedisse de se elevarem para Ele, e predispondo essas almas com tais favores que não podiam ofuscar o brilho imaculado da sua veste baptismal, perguntava-me por que razão os pobres selvagens, por exemplo, haviam de morrer em tão grande número sem sequer terem ouvido pronunciar o nome de Deus… Jesus dignou-se instruir-me acerca deste mistério. Pôs-me diante dos olhos o livro da natureza, e compreendi que todas as flores que ele criou são belas, que o esplendor da rosa e a alvura do lírio não tiram o perfume à pequena violeta nem a simplicidade encantadora à margarida… Compreendi que, se todas as pequeninas flores quisessem ser rosas, a natureza perderia o seu adorno primaveril, os campos não ficariam esmaltados de florzinhas…

Assim acontece no mundo das almas, que é o jardim de Jesus. Ele quis os grandes Santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas; mas criou também outros mais pequenos, e estes devem contentar-se com serem margaridas ou violetas, destinadas a deleitar os olhares de Deus quando olha para o chão. A perfeição consiste em fazer a sua vontade, em ser o que Ele quer que sejamos…

(Teresa de Lisieux, in 'História de uma Alma', Ms A 2vº, — Alençon (1873-1877))